O Segredo da Base Palmeirense: Formação Humana e Joias Milionárias

A Filosofia da Formação Humana na Base do Palmeiras

No coração da renomada base do Palmeiras, um princípio se destaca: a formação do indivíduo. João Paulo Sampaio, o coordenador por trás dessa transformação, enfatiza que o futebol é uma "fábrica de ilusões", onde poucos alcançam o sucesso financeiro. Seu principal objetivo é preparar os jovens para a vida, muito além dos campos.

Essa abordagem se manifesta em ações concretas, como o acompanhamento próximo dos atletas, o apoio em momentos de dificuldade e a oferta de bolsas de estudo em escolas particulares. O coordenador não hesita em ser "chato", como ele mesmo diz, quando necessário para frear o deslumbramento e manter os jovens com os pés no chão.

A história de Pedro e Paulo, nomes fictícios para proteger suas identidades, ilustra bem esse método. Flagrados usando drogas, eles temiam o fim de seus sonhos. No entanto, Sampaio, ao invés de descartá-los, ofereceu uma segunda chance, acompanhando-os de perto com exames regulares. Essa atitude exemplifica a filosofia de "estar junto" e de acreditar na recuperação de seus pupilos.

O Desafio de Moldar Caracteres e Vencer a Marginalidade

O coordenador da base do Palmeiras tem uma preocupação constante com o futuro desses jovens. Ele reconhece que muitos vêm de contextos de vulnerabilidade social e que o caminho do futebol pode ser traiçoeiro. A estatística da CBF, que mostra que apenas 3% dos jogadores no Brasil ganham acima de R$ 50 mil, enquanto a maioria recebe menos de R$ 5 mil, é um alerta para a instabilidade da carreira.

Sampaio relata casos de atletas que ele tentou ajudar a sair da marginalidade, mas que acabaram sendo assassinados. Essa realidade o motiva a trabalhar incansavelmente para evitar que outros jovens sigam o mesmo caminho. Ele busca ser um conselheiro, um educador e, quando necessário, um freio para o deslumbramento.

O "Projeto Favela" é um exemplo da preocupação da base do Palmeiras com a formação social e o respeito à origem desses jovens. A iniciativa leva categorias do clube para treinar em campos de terra batida nas favelas da cidade, com o objetivo de estimular o improviso e valorizar as raízes de muitos atletas. "Muitos vêm de lá, sabem o que é sair da favela, mas outros não. E tem também o lado das pessoas, porque a gente faz amistoso, sai para comer na comunidade, às vezes deixa material", explica Sampaio.

A Trajetória Pessoal de João Paulo Sampaio e a Empatia com os Atletas

A empatia de João Paulo Sampaio com os jovens atletas tem raízes em sua própria história. Ele saiu de casa aos 11 anos, jogou em grandes clubes como Bahia e Vitória, e viveu as mesmas experiências que esses meninos vivem hoje. Aos 22 anos, três cirurgias no joelho o forçaram a se aposentar, abrindo caminho para sua trajetória como técnico e gestor.

?Sei na prática o que eles passam, e eles perdem a referência muito cedo. Por isso muitos casam cedo. Na base pegam a figura do professor, do diretor. E essa figura, às vezes, também tem que ser dura com eles, né??, afirma Sampaio. Ele não hesita em questionar o comportamento dos jovens, como em um caso em que repreendeu um atleta por ostentar um carro sem ter garantido o conforto de sua família.

A Virada de Chave e a Importância de Aliados na Base

Transformar a base do Palmeiras exigiu coragem e determinação. Nos primeiros anos, houve uma reformulação profunda, com a chegada de novos atletas e o aumento do número de categorias. Essa ousadia gerou críticas e até ameaças, mas Sampaio, com sua teimosia e obsessão, não se deixou abater.

Um dos grandes aliados nessa jornada foi o técnico Vanderlei Luxemburgo, que, segundo Sampaio, "foi a grande contratação da base do Palmeiras ". Luxemburgo quebrou a lógica de subir apenas um ou outro atleta, e deu oportunidades para diversos jovens, como Danilo, que hoje brilha no futebol europeu. "Eu falo que Luxemburgo foi a grande contratação da base do Palmeiras . Porque ele quebrou aquela coisa de que subia um ou outro e tinha uma relação muito próxima", recorda o coordenador.

O Legado de Uma Base Sólida e o Futuro Promissor

A relação de proximidade com a equipe profissional se manteve, mesmo após a saída de Luxemburgo. Abel Ferreira e seu auxiliar, Victor Castanheira, continuaram o trabalho de integração, garantindo que os jovens talentos tenham espaço no time principal. Em 2024, 27% do elenco principal foi formado por jogadores revelados na base.

Em menos de uma década, o Palmeiras mudou sua postura, investiu em infraestrutura, triplicou o número de profissionais na base e instituiu uma filosofia de autonomia e liberdade. O resultado é uma base sólida, que continua a revelar talentos e gerar receitas para o clube, com a venda de joias como Endrick, que fizeram o clube arrecadar R$ 1,8 bilhão. O trabalho de João Paulo Sampaio segue, com a recusa de uma proposta do Flamengo, o que demonstra o seu compromisso com o futuro do clube e a formação de novos craques e cidadãos.